Avan?am pesquisas do IAC em busca de um caf? sem cafe?na
1 de setembro de 2020
Ap?s descobrirem em 2004 uma variedade de gr?o de caf? que n?o cont?m cafe?na, pesquisadores do Instituto Agron?mico de Campinas (IAC), vinculado ? Secretaria de Agricultura de S?o Paulo, continuam a avan?ar na busca de um produto que seja comercialmente vi?vel, ainda que o processo seja naturalmente lento e que o prazo para isso ainda seja medido em anos.
Batizada de "AC", em homenagem a Alcides Carvalho, considerado o maior melhorista de caf? do pa?s, a variedade possui apenas 0,1% de cafe?na, praticamente nada se comparada aos gr?os tradicionais de ar?bica (com teor de 1,2%) e robusta (teor de 2,4%).
A pesquisadora Maria Bernadete Silvarolla lembra que a caracter?stica foi encontrada em tr?s exemplares do banco de germoplasma do instituto, um cafezal com cerca de 60 mil plantas. Eles atingiram esse teor m?nimo de cafe?na atrav?s de uma muta??o gen?tica natural de gr?os ar?bica, sem a interfer?ncia do homem.
"Fizemos um pente-fino nos cafezais para obter variedades que pudessem, atrav?s de cruzamentos convencionais, levar a esse resultado. Mas encontramos exemplares prontos". Maria Bernadete afirma ter analisado perto de 3 mil plantas entre os anos de 1999 e 2003. "D? at? para ficar louca", brinca a pesquisadora.
Em 2004, veio a surpresa. A descoberta ganhou vis?o internacional com a publica??o, no mesmo ano, de um artigo na revista cient?fica "Nature", uma das mais renomadas do mundo.
Desde ent?o, o desafio tem sido tornar esses gr?os naturalmente descafeinados comercialmente vi?veis. O obst?culo ainda ? elevar a sua produtividade. Enquanto uma boa m?dia ? de 20 a 30 sacas de caf? colhido por hectare, a variedade "AC" rende, no m?ximo, 10 sacas. "? isso o que eu estou tentando corrigir. Temos que quebrar bloqueios biol?gicos", diz a pesquisadora.
O trabalho de melhoramento gen?tico convencional, no entanto, ? vagaroso. Os cruzamentos s?o realizados ? m?o e transferem os genes do gr?o naturalmente descafeinado para sementes de uma cultivar modelo de caf? ar?bica. Uma vez que a muda de caf? ? plantada, s? vai gerar seus primeiros gr?os depois de um prazo de quatro anos.
O IAC obteve recentemente a segunda gera??o de plantas obtidas desses cruzamentos e os resultados foram satisfat?rios, mas diz que s? poder? comprovar que chegou ? produtividade desejada depois de quatro colheitas. "Precisamos encontrar caracter?sticas boas de dois ancestrais diferentes. Antes de 2020 n?o teremos nada a mostrar".
Para a pesquisadora, a nova variedade de gr?o contribuiria para elevar os ganhos dos agricultores, que passariam a ter um produto diferenciado nas m?os com grande aceita??o no exterior. "? uma op??o para o lavrador ganhar, n?o a ind?stria", afirma ela. Um gr?o naturalmente sem cafe?na, por exemplo, poderia obter a certifica??o de org?nico.
De acordo com dados internacionais, apenas 10% de todo caf? consumido no mundo (foram 40 milh?es de sacas em 2010) ? descafeinado. Embora n?o existam indicadores confi?veis sobre a tend?ncia de consumo desse tipo de caf?, no Brasil ou no mundo, especialistas afirmam que os consumidores mais ?vidos s?o os americanos e os europeus. No Brasil, o gosto pelo descafeinado ainda ? restrito a muito poucos - menos de 1% dos consumidores.
Para se chegar ao caf? descafeinado ? necess?rio submeter os gr?os a processos qu?micos - normalmente o solvente diclorometano -, o que o desqualifica para a certifica??o. No Brasil, a descafeiniza??o ? feita apenas por uma empresa, a Cocam Cia. de Caf? Sol?vel e Derivados, na regi?o de Catanduva (SP). Procurada, a empresa n?o quis conceder entrevista.
Al?m de prestar o servi?o ? ind?stria de retirada da cafe?na dos gr?os, a Cocam vende esse subproduto a outros segmentos industriais. Por seu efeito estimulante, que age diretamente sobre o sistema nervoso central, a cafe?na ? utilizada em larga escala para a manipula??o de refrigerantes e energ?ticos, f?rmacos (de analg?sicos a inibidores de apetite) e cosm?ticos. Al?m da cafe?na natural, a ind?stria se abastece tamb?m de cafe?na sint?tica.
Fonte: Bettina Barros - Valor Econ?mico
Batizada de "AC", em homenagem a Alcides Carvalho, considerado o maior melhorista de caf? do pa?s, a variedade possui apenas 0,1% de cafe?na, praticamente nada se comparada aos gr?os tradicionais de ar?bica (com teor de 1,2%) e robusta (teor de 2,4%).
A pesquisadora Maria Bernadete Silvarolla lembra que a caracter?stica foi encontrada em tr?s exemplares do banco de germoplasma do instituto, um cafezal com cerca de 60 mil plantas. Eles atingiram esse teor m?nimo de cafe?na atrav?s de uma muta??o gen?tica natural de gr?os ar?bica, sem a interfer?ncia do homem.
"Fizemos um pente-fino nos cafezais para obter variedades que pudessem, atrav?s de cruzamentos convencionais, levar a esse resultado. Mas encontramos exemplares prontos". Maria Bernadete afirma ter analisado perto de 3 mil plantas entre os anos de 1999 e 2003. "D? at? para ficar louca", brinca a pesquisadora.
Em 2004, veio a surpresa. A descoberta ganhou vis?o internacional com a publica??o, no mesmo ano, de um artigo na revista cient?fica "Nature", uma das mais renomadas do mundo.
Desde ent?o, o desafio tem sido tornar esses gr?os naturalmente descafeinados comercialmente vi?veis. O obst?culo ainda ? elevar a sua produtividade. Enquanto uma boa m?dia ? de 20 a 30 sacas de caf? colhido por hectare, a variedade "AC" rende, no m?ximo, 10 sacas. "? isso o que eu estou tentando corrigir. Temos que quebrar bloqueios biol?gicos", diz a pesquisadora.
O trabalho de melhoramento gen?tico convencional, no entanto, ? vagaroso. Os cruzamentos s?o realizados ? m?o e transferem os genes do gr?o naturalmente descafeinado para sementes de uma cultivar modelo de caf? ar?bica. Uma vez que a muda de caf? ? plantada, s? vai gerar seus primeiros gr?os depois de um prazo de quatro anos.
O IAC obteve recentemente a segunda gera??o de plantas obtidas desses cruzamentos e os resultados foram satisfat?rios, mas diz que s? poder? comprovar que chegou ? produtividade desejada depois de quatro colheitas. "Precisamos encontrar caracter?sticas boas de dois ancestrais diferentes. Antes de 2020 n?o teremos nada a mostrar".
Para a pesquisadora, a nova variedade de gr?o contribuiria para elevar os ganhos dos agricultores, que passariam a ter um produto diferenciado nas m?os com grande aceita??o no exterior. "? uma op??o para o lavrador ganhar, n?o a ind?stria", afirma ela. Um gr?o naturalmente sem cafe?na, por exemplo, poderia obter a certifica??o de org?nico.
De acordo com dados internacionais, apenas 10% de todo caf? consumido no mundo (foram 40 milh?es de sacas em 2010) ? descafeinado. Embora n?o existam indicadores confi?veis sobre a tend?ncia de consumo desse tipo de caf?, no Brasil ou no mundo, especialistas afirmam que os consumidores mais ?vidos s?o os americanos e os europeus. No Brasil, o gosto pelo descafeinado ainda ? restrito a muito poucos - menos de 1% dos consumidores.
Para se chegar ao caf? descafeinado ? necess?rio submeter os gr?os a processos qu?micos - normalmente o solvente diclorometano -, o que o desqualifica para a certifica??o. No Brasil, a descafeiniza??o ? feita apenas por uma empresa, a Cocam Cia. de Caf? Sol?vel e Derivados, na regi?o de Catanduva (SP). Procurada, a empresa n?o quis conceder entrevista.
Al?m de prestar o servi?o ? ind?stria de retirada da cafe?na dos gr?os, a Cocam vende esse subproduto a outros segmentos industriais. Por seu efeito estimulante, que age diretamente sobre o sistema nervoso central, a cafe?na ? utilizada em larga escala para a manipula??o de refrigerantes e energ?ticos, f?rmacos (de analg?sicos a inibidores de apetite) e cosm?ticos. Al?m da cafe?na natural, a ind?stria se abastece tamb?m de cafe?na sint?tica.
Fonte: Bettina Barros - Valor Econ?mico