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Futuro do tabaco no Brasil preocupa cadeia produtiva
1 de setembro de 2020

Uma cultura agr?cola que sustenta milhares de fam?lias ga?chas, remunera muito bem o produtor e movimenta uma das ind?stria que mais gera arrecada??o para os cofres governamentais. Dificilmente uma cadeia produtiva t?o importante teria qualquer incentivo ? expans?o de suas atividades questionado pelo poder p?blico e muito menos pelos pr?prios produtores. Mas essa l?gica n?o se aplica quando o produto em quest?o ? o tabaco.

Pressionados pela competi??o externa, queda do consumo e legisla??es antitabagistas, muitos fumicultores e munic?pios v?m buscando alternativas para reduzir sua depend?ncia econ?mica da cultura. No entanto, ? dif?cil encontrar solu??es que possam substituir por completo os ganhos gerados pelo ?ouro verde? da pequena propriedade.

O tamanho do setor impressiona. O Brasil ? o maior exportador mundial de tabaco e segundo maior produtor, ficando atr?s somente da China. Na safra de 2010, foram colhidas 687 mil toneladas do produto. Para a de 2011, a estimativa, que ainda est? sendo contabilizada, ? de 801 mil toneladas, segundo a Associa??o dos Fumicultores do Brasil (Afubra). Apenas o Rio Grande do Sul, maior produtor nacional, representa 48% desse total.

Atualmente, o tabaco garante renda a 185 mil pequenos agricultores. Uma das raz?es para o grande interesse no produto ? o fato de que praticamente toda a cadeia produtiva ? estruturada de uma forma integrada com as empresas compradoras da mat?ria-prima. Com isso, os produtores possuem acesso facilitado a sementes e insumos e assist?ncia t?cnica fornecida pelas companhias. Al?m disso, com a integra??o, ao final da safra a comercializa??o do volume produzido j? est? garantida pelas ind?strias.

A maior lucratividade da lavoura tamb?m ? um atrativo aos produtores, especialmente para os que possuem pequenas propriedades. ?Ningu?m planta fumo porque gosta, mas sim porque ele tende a trazer um rendimento que outras culturas n?o d?o?, explica Carlos Joel da Silva, vice-presidente da Federa??o dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag-RS). Um exemplo apontado pelo dirigente ? a compara??o entre o tabaco e o milho. ?Em um hectare, voc? pode colher 100 sacos de milho, com um ganho bruto m?dio de R$ 2 mil. Mas na mesma ?rea, ocupada por fumo, voc? colhe 150 arrobas e pode receber at? R$ 15 mil?, comenta.

No entanto, as expectativas das entidades ligadas ao setor ? que a produ??o de fumo brasileira sofra uma queda gradual daqui para frente. Apenas para a pr?xima safra, a Afubra j? defende uma diminui??o de 20% no plantio da cultura. ?Nossa proje??o ? que, at? 2015, a produ??o nacional tem que ser reduzida para 450 mil a 500 mil toneladas, a fim de manter os pre?os rent?veis para o produtor?, afirma o presidente da Afubra, Ben?cio Albano Werner.

Um dos fatores que est? influenciando a tend?ncia de queda do cultivo do tabaco ? a diminui??o do n?mero de consumidores no Brasil. De acordo com estudos do Minist?rio da Sa?de, em 1994 havia 44,3 milh?es de fumantes no Pa?s, cerca 28% da popula??o. Em 2010, esse n?mero foi reduzido para 27,8 milh?es, alcan?ando 14,5% dos brasileiros. Segundo o professor Jos? Ant?nio Schontag, coordenador de projetos da Funda??o Getulio Vargas (FGV), essa redu??o deve-se tanto ?s campanhas p?blicas antitabagistas quanto ? infla??o do pre?o do cigarro, que tem um impacto forte no bolso do consumidor. ?De 2002 a 2010, enquanto os sal?rios tiveram um crescimento em termos reais de 3%, o pre?o do ma?o de cigarros teve uma eleva??o de at? 60%?, explica.

De acordo com o pesquisador, essa tend?ncia pode at? aumentar ao longo do tempo. Atualmente, a Ag?ncia Nacional de Vigil?ncia Sanit?ria (Anvisa) estuda a proibi??o da adi??o de aroma e sabor na fabrica??o do cigarro. Essa novas medidas devem afetar ainda mais o setor. ?Se implantadas, as mudan?as podem fechar at? 500 empresas fornecedoras da ind?stria de cigarros, reduzir as nossas exporta??es em US$ 300 milh?es anuais e provocar uma queda de R$ 5,2 bilh?es por ano em arrecada??o de impostos?, destaca Schontag.

Munic?pios buscam novas fontes de renda


A necessidade de garantir fontes de renda alternativas ? cultura do tabaco ? considerada uma prioridade nas pol?ticas agr?colas dos munic?pios produtores. Investimentos em novas culturas, cria??o de animais e agroind?strias t?m sido incentivados pelos poderes p?blicos locais, como uma forma de seguran?a econ?mica. Com uma ?rea plantada em 2010 de 10.984 hectares e uma produ??o de 22.860 toneladas na ?ltima safra, Ven?ncio Aires ? o maior produtor de tabaco do Rio Grande do Sul. Apenas no ano passado, a receita de ICMS local gerada pelo produto alcan?ou R$ 3,73 milh?es. No entanto, mesmo com a grande import?ncia que a cultura tem para a economia local, o munic?pio est? em busca de alternativas.

A prefeitura tem procurado estimular a diversifica??o atrav?s de um programa de fundo rotativo, que disponibiliza dinheiro para que os produtores possam trabalhar diferentes culturas. Outro benef?cio ? um aux?lio com m?quinas agr?colas. ?Quem trabalhar um projeto de produ??o aprovado pela Emater tem ? disposi??o o uso de at? 100 horas de m?quinas, como para a constru??o de avi?rios ou chiqueiros?, explica o secret?rio municipal da Agricultura, Fernando Heissler. Al?m disso, s?o dados incentivos ? forma??o de agroind?strias, atrav?s de uma linha de cr?dito a fundo perdido.

As medidas come?aram a fazer efeito. H? cinco anos, 86% do valor comercializado pela agricultura municipal vinha do tabaco. Hoje a quantidade j? se reduziu para 74%, devido principalmente ao aumento da participa??o da avicultura, do leite e da pecu?ria de corte. ?N?o queremos substituir o tabaco, mas n?o podemos deixar que os agricultores tenham depend?ncia exclusiva de um ?nico produto?, comenta Heissler.

Na regi?o Centro-Serra, polarizada por Sobradinho, o fumo representa mais de 50% da arrecada??o total do setor agropecu?rio. Mas h? alguns anos, os 11 munic?pios da regi?o buscam formas para criar novas oportunidades econ?micas. ?V?nhamos percebendo sinais de que a fumicultura deixaria de ser t?o lucrativa no futuro, e fizemos diversos semin?rios regionais para discutir essa quest?o?, lembra Itamar Batista da Silva, diretor da Secretaria da Agricultura de Sobradinho.

Um efeito foi a cria??o de c?maras setoriais de incentivo a outras culturas, como frutas, gr?os, carne e leite. Algumas iniciativas come?aram a dar frutos. ?Nossa bacia leiteira, que n?o era importante, teve uma ativa??o forte, e hoje o leite j? ? uma boa alternativa.

Produtores divididos sobre novos rumos

As divis?es sobre como administrar o futuro da lavoura de tabaco no Estado podem ser encontradas dentro de uma mesma fam?lia. Na comunidade de Quarta Linha Nova Baixa, os irm?o Paulo e S?rgio Reis dividem uma ?rea de 60 hectares, onde plantam fumo, hortali?as e fazem cria??o de peixes. Administrando separadamente suas terras, cada um possui uma ideia diferente sobre como agir em rela??o ao cultivo do tabaco.

Na ?ltima safra, Paulo plantou mais de 100 mil p?s de fumo. Para a pr?xima, cujo plantio se inicia em agosto, poder? expandir a produ??o, com 150 mil p?s. Segundo o produtor, que investe principalmente em piscicultura para complementar a renda, realizar a troca do fumo por outro produto ainda n?o ? uma solu??o vi?vel para a maioria das propriedades rurais na regi?o.

Ele lembra que a horticultura, por exemplo, uma das atividades mais apontadas como alternativas para os pequenos produtores, apresenta diversos inconvenientes. ?Al?m de exigir muito tempo de servi?o, se uma propriedade fica muito distante da cidade, e a colheita tem que ser transportada pelas p?ssimas estradas de terra do Interior, o produto acaba ficando com baixa qualidade na entrega?, argumenta.

J? S?rgio aposta na dire??o contr?ria. Sua pr?xima lavoura de fumo, que na ?ltima safra atingiu 100 mil p?s, ser? reduzida pela metade neste ano. O principal motivo foi o baixo pre?o alcan?ado pela venda, que n?o gerou lucro. ?Tenho um custo de produ??o de R$ 65,00 a R$ 70,00 por arroba, a mesma faixa de valor que estou conseguindo vender minha colheita?, comenta.

Segundo o agricultor, a diminui??o da lavoura de fumo na regi?o do Vale do Rio Pardo ser? um processo natural, causado pelo pr?prio ?xodo rural e pela dificuldade em obter m?o de obra jovem. Ele lembra que a legisla??o impede menores de 18 anos de trabalhar na lavoura de tabaco, o que faz com que muitos filhos de agricultores n?o recebam os conhecimentos do processo. ?A maior parte dos produtores hoje j? s?o aposentados, e os jovens est?o buscando outras possibilidades?, afirma.

Como alternativa, S?rgio aposta nas hortali?as. Entre fevereiro e setembro, quando os trabalhos relacionados ao tabaco s?o reduzidos, ele planta semanalmente 4 mil mudas de couve-flor, br?colis e repolho. Para armazenar e transportar a produ??o, est? investindo em uma c?mara fria e um caminh?o. Al?m disso, tamb?m come?ou uma cria??o de carpas, cujas primeiras vendas ser?o realizadas no pr?ximo ano.
Pioneiro n?o se arrepende da mudan?a

Embora o tema da diversifica??o seja recente, alguns pioneiros demonstram h? d?cadas que os produtores do Vale do Rio Pardo n?o precisam depender apenas do fumo como fonte de renda. Um deles ? o Blasio Etges, de Linha Pinheiral, no interior de Santa Cruz do Sul.

H? 27 anos, ele deixou de plantar fumo e passou a se dedicar aos hortigranjeiros. ?Como trabalhar com hortali?as ? um servi?o muito puxado, eu tive que escolher, ou plantava s? fumo ou s? verduras?, conta. Atualmente, dos 22 hectares de sua propriedade, Etges ocupa sete com alfaces, espinafre, br?colis, tomate e beterraba, entre outros produtos. Al?m disso, tamb?m realiza o plantio de milho e cria vacas leiteiras, porcos e galinhas.

O trabalho ? realmente exaustivo. Usando apenas a m?o de obra da fam?lia (sete pessoas), Etges produz mensalmente de 20 a 25 toneladas de hortali?as, que s?o comercializadas para restaurantes e escolas de Santa Cruz do Sul atrav?s da Ceasa regional e da Cooperativa de Alimentos Santa Cruz (Coopersanta). Para garantir o abastecimento di?rio dos compradores, a fam?lia precisa acordar todos os dias ?s 4h, a fim de realizar a colheita, lavagem, embalagem e transporte dos produtos.

No entanto, os recursos gerados pela produ??o compensam os esfor?os. Com os lucros obtidos, Etges chegou a construir um galp?o e c?mara fria para guardar as hortali?as, al?m de novas casas para sua fam?lia. A natureza tamb?m foi favorecida com sua escolha. O fato de poder plantar em uma ?rea de cultivo menor e a falta de necessidade de usar lenha para secar o fumo resultaram num aumento de 25% da ?rea de mata nativa em sua propriedade. ?N?o me arrependo da escolha que fiz. Se tivesse que decidir hoje, faria tudo de novo?, afirma.
Competi??o internacional ? desafio para o Pa?s

Um exemplo do que pode ocorrer com o tabaco brasileiro ? o destino da produ??o de tabaco dos Estados Unidos. At? a d?cada de 1990, o pa?s norte-americano era o maior produtor mundial, chegando a quase um milh?o de toneladas por ano. No entanto, a redu??o de consumo influenciada por legisla??es antitabagistas e o aumento das importa??es de pa?ses em desenvolvimento, onde os custos de produ??o eram menores, fez com que a produ??o dos Estados Unidos fosse reduzida a 350 mil toneladas anuais.

O Brasil foi um dos maiores beneficiados pela redu??o norte-americana. Enquanto em 1990 o Pa?s produzia 368 mil toneladas de tabaco, em 2004 atingiu um pico de 851 mil toneladas. O crescimento, que foi acelerado na primeira metade da d?cada passada, se deveu em parte pelo colapso da produ??o no Zimbabwe. Em 2000, o ditador Robert Mugabe imp?s uma reforma agr?ria que dividiu as terras dos latifundi?rios brancos para camponeses negros. No entanto, a medida fez com que o pa?s africano, que era o sexto maior produtor, com 237 mil toneladas colhidas em 2000, passasse a produzir menos de 70 mil toneladas em 2004.

No entanto, outros pa?ses africanos, como Malawi, Tanz?nia, Z?mbia e Mo?ambique, est?o aumentando sua produ??o e competindo diretamente com o Brasil no mercado internacional, fazendo com que ocorra aqui o mesmo fen?meno verificado nos Estados Unidos nas ?ltimas duas d?cadas. Al?m disso, as condi??es cambiais desfavor?veis ?s exporta??es tamb?m est?o tirando competitividade do produto brasileiro.

O presidente do Sindicato da Ind?stria do Tabaco (Sinditabaco), Iro Sch?nke, admite que a situa??o cambial tem elevado muito o custo do tabaco brasileiro, fazendo com que perca competitividade internacional, enquanto a ?rea e o volume produzidos nos pa?ses africanos aumenta significativamente. Sch?nke ressalta que o Pa?s possui um produto de qualidade e conta com uma estrutura bem organizada de produ??o. ?As maiores ind?strias do setor no mundo demonstram que continuam acreditando e investindo no Brasil.?

Em 2009, a Japan Tobacco Internacional (JTI) adquiriu duas ind?strias, ambas de Santa Cruz do Sul, e em 2011 comunicou a cria??o de um Centro Mundial de Desenvolvimento Agron?mico no munic?pio. J? em 2010, a Philip Morris verticalizou o seu neg?cio no Pa?s, passando a ter contratos diretamente com os produtores, e anunciou investimentos para uma nova f?brica em Santa Cruz do Sul, em fase de constru??o.

A Souza Cruz, l?der do mercado nacional, tem investido nos ?ltimos anos nas suas instala??es em Cachoeirinha. O diretor de Fumo da empresa, Dimar Frozza, avalia com preocupa??o o futuro da competi??o do setor fumageiro nacional com a ?frica. ?Vemos que oportunidades governamentais poderiam ser mais exploradas, como a busca de alternativas fiscais que favorecessem mais as empresas exportadoras?, destaca.

Fonte: Canal do Produtor

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