Melhoramento gen?tico de bovinos permite a produ??o de leite menos alerg?nico
1 de setembro de 2020
O setor l?cteo no Brasil come?a a explorar um importante nicho de mercado: a produ??o de leite para pessoas que possuem alergia ?s beta-case?nas, que correspondem a 30% das prote?nas do leite. Trabalhos de melhoramento gen?tico, desenvolvidos pela Embrapa Gado de Leite (MG) em parceria com as associa??es de criadores das ra?as Gir Leiteiro e Girolando, ir?o impulsionar ainda mais esse segmento. Os sum?rios de touros do teste de prog?nie dessas ra?as, que trazem caracter?sticas gen?ticas dos touros cujo s?men ser? usado na fertiliza??o das vacas, j? apresentam a caracter?stica para a produ??o do leite que vem sendo chamado de ?A2?. Os pesquisadores da Embrapa dizem haver evid?ncias cient?ficas de que a beta-case?na do leite A2 n?o causa rea??es em pessoas que possuem alergia a essa prote?na espec?fica.
A alergia ? prote?na do leite de vaca, conhecida como APLV, ? um problema mais observado na inf?ncia. Segundo dados da Associa??o Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), cerca de 350 mil indiv?duos no Brasil s?o al?rgicos. A pessoa que tem o problema ter? que eliminar o leite de vaca da dieta, deixando de se beneficiar de uma importante fonte de c?lcio e de outros nutrientes num momento da vida em que o ser humano mais necessita. Embora os alergistas afirmem que o leite A2 n?o seja indicado para todos os casos, o pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Marcos Ant?nio Sundfeld Gama diz que ele pode ser ben?fico para muitas pessoas, pois a beta-case?na ? a principal causadora da APLV.
Alergia ? diferente de intoler?ncia
? importante destacar que o leite A2 n?o ? indicado para a intoler?ncia ? lactose, que pode ser confundida com a alergia ao leite de vaca. O alergista e imunologista Aristeu Jos? de Oliveira diz que APLV e intoler?ncia ? lactose s?o problemas distintos. A lactose ? o a??car do leite e n?o uma prote?na. A intoler?ncia ocorre em pessoas que t?m defici?ncia na produ??o de uma enzima chamada lactase, cuja fun??o ? quebrar as mol?culas de lactose durante o processo digestivo, transformando-a em energia para as c?lulas do corpo humano. Os sintomas da intoler?ncia ? lactose s?o dores abdominais, diarreia, flatul?ncia e abd?men distendido.
A APLV desencadeia uma s?rie de rea??es, algumas parecidas com a intoler?ncia ? lactose, o que pode gerar confus?o entre os dois problemas. Mas, al?m dos sintomas g?strico-intestinais ocorrerem de forma mais acentuada (diarreia e v?mitos), a APLV pode causar placas vermelhas no corpo, muitas vezes acompanhadas por coceiras, incha?o dos l?bios e dos olhos e, na rea??o mais aguda, a anafilaxia, que pode levar ? morte. Diferente da alergia a alguns alimentos como amendoim, castanhas e frutos do mar, que pode acompanhar o paciente por toda a vida, quando a APLV tem in?cio na inf?ncia, ap?s a crian?a ter o primeiro contato com o leite de vaca, h? uma grande probabilidade de a alergia se extinguir na adolesc?ncia. Mas at? l?, os casos mais graves dever?o ser constantemente monitorados.
?O leite A2 pode evitar esses transtornos, pois, quando digerido pelo ser humano, n?o forma a subst?ncia chamada beta-casomorfina-7 (BCM-7), respons?vel por desencadear o processo al?rgico?, explica o pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Marcos Vinicius G. Barbosa da Silva. Alguns estudos cient?ficos sugerem que a BCM-7, resultante da digest?o da beta-case?na A1 (do leite comum de vaca), al?m de provocar a APLV, pode intensificar os problemas neurol?gicos de indiv?duos que apresentam transtorno autista e esquizofrenia. A subst?ncia pode ainda ter influ?ncias no sistema cardiovascular. ?A BCM-7 ? um oxidante do LDL, conhecido como colesterol ruim, que est? relacionado ? forma??o de placas arteriais, aumentando o risco de doen?as card?acas?, diz Silva.
Melhoramento gen?tico
Cientistas conclu?ram que at? oito mil anos atr?s as vacas produziam somente o leite A2. Uma muta??o gen?tica nos bovinos levou ao surgimento de animais com o gene para a produ??o do leite A1. Essa caracter?stica ? mais comum nas ra?as de origem europeia (subesp?cie taurus). As ra?as Holandesa e Pardo-su??a possuem 50% de chances de produzirem leite A2. Na ra?a Jersey esse ?ndice ? maior: 75%. Da subesp?cie taurus, apenas a ra?a Guernsey, pouco comum no Brasil, possui 100% dos seus indiv?duos capazes de produzir leite A2. J? nas ra?as zebu?nas (subesp?cie indicus), de grande predomin?ncia na pecu?ria nacional, que inclui o gir leiteiro, 98% dos indiv?duos t?m gen?tica positiva para a produ??o de leite A2.
?A alta frequ?ncia do alelo A2 na pecu?ria brasileira ? uma vantagem competitiva para nossos produtores explorarem o nicho de mercado que est? se formando em torno do produto?, diz Silva. Para o tamb?m pesquisador da Embrapa, Jo?o Cl?udio do Carmo Panetto, essa informa??o disponibilizada nos sum?rios dos touros gir leiteiro e girolando ir? facilitar o processo de melhoramento gen?tico do rebanho, caso o produtor queira produzir leite A2. Mas n?o bastam as informa??es a respeito do touro, cujo s?men ser? usado na fertiliza??o. As vacas do rebanho devem ser genotipadas, ou seja, ? preciso identificar no material gen?tico do indiv?duo se o animal ? homozigoto (possui os dois alelos) para a produ??o de leite A2. O ideal ? que sejam selecionadas as vacas A2A2, que inseminadas por um touro A2A2 ter?o 100% das filhas com os alelos A2A2. Panetto explica:
?Se uma vaca tem o gen?tipo A2A2, ? garantido que ela passar? para a prog?nie o alelo A2. Similarmente, uma vaca A1A1 passar? o alelo A1. Para uma vaca A1A2, h? 50% de chances de passar para a prog?nie qualquer um dos alelos. A genotipagem da vaca ? feita com a coleta de tecido biol?gico do animal, que pode ser uma amostra de sangue ou de pelo. A amostra ? enviada para um laborat?rio especializado que apresentar? o resultado ao produtor de acordo com o tipo: A1A1, A1A2 e A2A2. Depois, basta escolher o s?men adequado, cujas informa??es est?o presentes nos sum?rios dos touros gir leiteiro e girolando.?
Pesquisadores da Embrapa orientam que o processo de sele??o pode ser acelerado por meio do descarte de animais A1A1 e A1A2. Devem permanecer no rebanho somente as vacas e bezerros com o gen?tipo A2A2. A velocidade com a qual o rebanho ser? convertido para a produ??o de leite A2 depender? da estrat?gia de uso do s?men de touros A2, do investimento na genotipagem das vacas, das taxas de descarte e da reten??o dos bezerros. ?Se o criador optar pelo uso conjunto dessas a??es, sem reduzir drasticamente o rebanho, o tempo necess?rio para que todos os animais da fazenda sejam A2A2 poder? variar de duas a tr?s gera??es, cerca de dez a 15 anos?, diz Panetto.
Mercado promissor
Pode parecer complexo e demorado, mas quem optou pela produ??o de leite A2 diz que ? compensador. O pecuarista Eduardo Falc?o, propriet?rio da Est?ncia Silv?nia, em Ca?apava (SP), diz que o litro de leite A2 pode ser vendido na forma de derivados l?cteos at? quatro vezes mais caro que o leite convencional. A Est?ncia Silv?nia ? especializada em melhoramento gen?tico da ra?a Gir Leiteiro, e Eduardo Falc?o ? o pioneiro da produ??o e comercializa??o de leite A2 no Brasil. A produ??o da Est?ncia Silv?nia ainda ? pequena, cerca de 700 litros de leite por dia destinados ? fabrica??o de queijos, manteiga e ricota, vendidos no Vale do Para?ba e na cidade de S?o Paulo. Alguns outros produtores que possuem rebanhos gir leiteiro est?o seguindo pelo mesmo caminho. Segundo Silva, essa ? uma forma de agregar valor ao leite oriundo de rebanhos gir leiteiro, cuja caracter?stica da ra?a ? ser menos produtiva do que a ra?a Holandesa ou mesmo a ra?a sint?tica Girolando, resultado do cruzamento do gir leiteiro com o holand?s.
O mercado internacional aponta para o sucesso do empreendimento. A Nova Zel?ndia, maior exportadora mundial de leite em p?, produz leite A2 desde 2003. O pa?s registrou comercialmente o nome A2 Milk e certifica latic?nios e fazendas que produzem exclusivamente o leite A2. Outro grande exportador, a Austr?lia, tamb?m j? ingressou nesse mercado. O curioso ? que o produto deixou de ser uma exclusividade de pessoas al?rgicas ? prote?na do leite e est? conquistando o grande p?blico. Na Oceania ? poss?vel comprar leite e derivados l?cteos em diversas lojas e caf?s. O produto tamb?m j? ? visto nas g?ndolas de supermercados da Inglaterra e dos Estados Unidos.
Fonte: Campo Vivo
A alergia ? prote?na do leite de vaca, conhecida como APLV, ? um problema mais observado na inf?ncia. Segundo dados da Associa??o Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), cerca de 350 mil indiv?duos no Brasil s?o al?rgicos. A pessoa que tem o problema ter? que eliminar o leite de vaca da dieta, deixando de se beneficiar de uma importante fonte de c?lcio e de outros nutrientes num momento da vida em que o ser humano mais necessita. Embora os alergistas afirmem que o leite A2 n?o seja indicado para todos os casos, o pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Marcos Ant?nio Sundfeld Gama diz que ele pode ser ben?fico para muitas pessoas, pois a beta-case?na ? a principal causadora da APLV.
Alergia ? diferente de intoler?ncia
? importante destacar que o leite A2 n?o ? indicado para a intoler?ncia ? lactose, que pode ser confundida com a alergia ao leite de vaca. O alergista e imunologista Aristeu Jos? de Oliveira diz que APLV e intoler?ncia ? lactose s?o problemas distintos. A lactose ? o a??car do leite e n?o uma prote?na. A intoler?ncia ocorre em pessoas que t?m defici?ncia na produ??o de uma enzima chamada lactase, cuja fun??o ? quebrar as mol?culas de lactose durante o processo digestivo, transformando-a em energia para as c?lulas do corpo humano. Os sintomas da intoler?ncia ? lactose s?o dores abdominais, diarreia, flatul?ncia e abd?men distendido.
A APLV desencadeia uma s?rie de rea??es, algumas parecidas com a intoler?ncia ? lactose, o que pode gerar confus?o entre os dois problemas. Mas, al?m dos sintomas g?strico-intestinais ocorrerem de forma mais acentuada (diarreia e v?mitos), a APLV pode causar placas vermelhas no corpo, muitas vezes acompanhadas por coceiras, incha?o dos l?bios e dos olhos e, na rea??o mais aguda, a anafilaxia, que pode levar ? morte. Diferente da alergia a alguns alimentos como amendoim, castanhas e frutos do mar, que pode acompanhar o paciente por toda a vida, quando a APLV tem in?cio na inf?ncia, ap?s a crian?a ter o primeiro contato com o leite de vaca, h? uma grande probabilidade de a alergia se extinguir na adolesc?ncia. Mas at? l?, os casos mais graves dever?o ser constantemente monitorados.
?O leite A2 pode evitar esses transtornos, pois, quando digerido pelo ser humano, n?o forma a subst?ncia chamada beta-casomorfina-7 (BCM-7), respons?vel por desencadear o processo al?rgico?, explica o pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Marcos Vinicius G. Barbosa da Silva. Alguns estudos cient?ficos sugerem que a BCM-7, resultante da digest?o da beta-case?na A1 (do leite comum de vaca), al?m de provocar a APLV, pode intensificar os problemas neurol?gicos de indiv?duos que apresentam transtorno autista e esquizofrenia. A subst?ncia pode ainda ter influ?ncias no sistema cardiovascular. ?A BCM-7 ? um oxidante do LDL, conhecido como colesterol ruim, que est? relacionado ? forma??o de placas arteriais, aumentando o risco de doen?as card?acas?, diz Silva.
Melhoramento gen?tico
Cientistas conclu?ram que at? oito mil anos atr?s as vacas produziam somente o leite A2. Uma muta??o gen?tica nos bovinos levou ao surgimento de animais com o gene para a produ??o do leite A1. Essa caracter?stica ? mais comum nas ra?as de origem europeia (subesp?cie taurus). As ra?as Holandesa e Pardo-su??a possuem 50% de chances de produzirem leite A2. Na ra?a Jersey esse ?ndice ? maior: 75%. Da subesp?cie taurus, apenas a ra?a Guernsey, pouco comum no Brasil, possui 100% dos seus indiv?duos capazes de produzir leite A2. J? nas ra?as zebu?nas (subesp?cie indicus), de grande predomin?ncia na pecu?ria nacional, que inclui o gir leiteiro, 98% dos indiv?duos t?m gen?tica positiva para a produ??o de leite A2.
?A alta frequ?ncia do alelo A2 na pecu?ria brasileira ? uma vantagem competitiva para nossos produtores explorarem o nicho de mercado que est? se formando em torno do produto?, diz Silva. Para o tamb?m pesquisador da Embrapa, Jo?o Cl?udio do Carmo Panetto, essa informa??o disponibilizada nos sum?rios dos touros gir leiteiro e girolando ir? facilitar o processo de melhoramento gen?tico do rebanho, caso o produtor queira produzir leite A2. Mas n?o bastam as informa??es a respeito do touro, cujo s?men ser? usado na fertiliza??o. As vacas do rebanho devem ser genotipadas, ou seja, ? preciso identificar no material gen?tico do indiv?duo se o animal ? homozigoto (possui os dois alelos) para a produ??o de leite A2. O ideal ? que sejam selecionadas as vacas A2A2, que inseminadas por um touro A2A2 ter?o 100% das filhas com os alelos A2A2. Panetto explica:
?Se uma vaca tem o gen?tipo A2A2, ? garantido que ela passar? para a prog?nie o alelo A2. Similarmente, uma vaca A1A1 passar? o alelo A1. Para uma vaca A1A2, h? 50% de chances de passar para a prog?nie qualquer um dos alelos. A genotipagem da vaca ? feita com a coleta de tecido biol?gico do animal, que pode ser uma amostra de sangue ou de pelo. A amostra ? enviada para um laborat?rio especializado que apresentar? o resultado ao produtor de acordo com o tipo: A1A1, A1A2 e A2A2. Depois, basta escolher o s?men adequado, cujas informa??es est?o presentes nos sum?rios dos touros gir leiteiro e girolando.?
Pesquisadores da Embrapa orientam que o processo de sele??o pode ser acelerado por meio do descarte de animais A1A1 e A1A2. Devem permanecer no rebanho somente as vacas e bezerros com o gen?tipo A2A2. A velocidade com a qual o rebanho ser? convertido para a produ??o de leite A2 depender? da estrat?gia de uso do s?men de touros A2, do investimento na genotipagem das vacas, das taxas de descarte e da reten??o dos bezerros. ?Se o criador optar pelo uso conjunto dessas a??es, sem reduzir drasticamente o rebanho, o tempo necess?rio para que todos os animais da fazenda sejam A2A2 poder? variar de duas a tr?s gera??es, cerca de dez a 15 anos?, diz Panetto.
Mercado promissor
Pode parecer complexo e demorado, mas quem optou pela produ??o de leite A2 diz que ? compensador. O pecuarista Eduardo Falc?o, propriet?rio da Est?ncia Silv?nia, em Ca?apava (SP), diz que o litro de leite A2 pode ser vendido na forma de derivados l?cteos at? quatro vezes mais caro que o leite convencional. A Est?ncia Silv?nia ? especializada em melhoramento gen?tico da ra?a Gir Leiteiro, e Eduardo Falc?o ? o pioneiro da produ??o e comercializa??o de leite A2 no Brasil. A produ??o da Est?ncia Silv?nia ainda ? pequena, cerca de 700 litros de leite por dia destinados ? fabrica??o de queijos, manteiga e ricota, vendidos no Vale do Para?ba e na cidade de S?o Paulo. Alguns outros produtores que possuem rebanhos gir leiteiro est?o seguindo pelo mesmo caminho. Segundo Silva, essa ? uma forma de agregar valor ao leite oriundo de rebanhos gir leiteiro, cuja caracter?stica da ra?a ? ser menos produtiva do que a ra?a Holandesa ou mesmo a ra?a sint?tica Girolando, resultado do cruzamento do gir leiteiro com o holand?s.
O mercado internacional aponta para o sucesso do empreendimento. A Nova Zel?ndia, maior exportadora mundial de leite em p?, produz leite A2 desde 2003. O pa?s registrou comercialmente o nome A2 Milk e certifica latic?nios e fazendas que produzem exclusivamente o leite A2. Outro grande exportador, a Austr?lia, tamb?m j? ingressou nesse mercado. O curioso ? que o produto deixou de ser uma exclusividade de pessoas al?rgicas ? prote?na do leite e est? conquistando o grande p?blico. Na Oceania ? poss?vel comprar leite e derivados l?cteos em diversas lojas e caf?s. O produto tamb?m j? ? visto nas g?ndolas de supermercados da Inglaterra e dos Estados Unidos.
Fonte: Campo Vivo