Cookies: Utilizamos cookies para otimizar nosso site e coletar estatísticas de uso. Por favor, verifique nossa política de cookies.

Entendi e Fechar
O pre?o dos alimentos seguir? pressionado
1 de setembro de 2020

A produ??o brasileira de gr?os passou de 1.258 quilos por hectare na safra 76/77 para 3.274 quilos na safra 2010/11.
Em 2001 apresentei, junto com Juarez Rizzieri e Paulo Picchetti, uma avalia??o da evolu??o dos pre?os de alimentos no Pa?s, buscando capturar parte dos benef?cios da pesquisa agr?cola, que induz a queda de pre?os. Evidentemente, nem toda queda de pre?os no varejo decorre da pesquisa; por exemplo, melhoras na organiza??o da produ??o, na qualidade do empres?rio agr?cola e da m?o de obra e no sistema de comercializa??o podem levar a alimentos mais baratos. Entretanto, o nexo do sucesso da pesquisa agr?cola que leva ? eleva??o na produtividade, resultando em maior produ??o e queda de pre?os, ? amplamente estabelecido na literatura.
Trabalhamos com os dados mensais do ?ndice de Pre?os ao Consumidor da Fipe para a cidade de S?o Paulo, para o per?odo que vai de janeiro de 1975 a dezembro de 2000. O ?ndice da Fipe tem algumas vantagens, em particular a sistem?tica revis?o dos or?amentos familiares e o fato de ser o ?nico ?ndice onde todos os produtos t?m seus pre?os coletados todas as semanas. Nossa cesta de produtos ? composta de leite, carne bovina, frango, arroz, feij?o, laranja, tomate, cebola, batata, banana, a??car, alface, caf?, cenoura, mam?o, ovo, ?leo de soja. ? um conjunto bastante representativo do item alimenta??o. Os pre?os individuais e a cesta geral s?o comparados com o IGP da Funda??o Get?lio Vargas.
Gra?as ao trabalho do excelente colega Juarez, os ?ndices foram atualizados at? maio deste ano e revelam uma queda extraordin?ria: de 48% entre dezembro de 1974 e final de 1989; de 50% entre 90 e 99 e, finamente uma queda final de 20,8% entre janeiro de 2000 e agosto de 2006.
N?o tenho d?vidas que a primeira e mais forte raz?o para a eleva??o do poder de compra da popula??o, especialmente de baixa renda, ? a redu??o persistente no custo da alimenta??o.
? certo que uma redu??o de pre?os de tamanha magnitude ? resultado de um conjunto de fatores. Entretanto, sem uma forte eleva??o da produtividade, que evidentemente decorre em boa parte dos efeitos da pesquisa, seria imposs?vel aos agricultores absorver tais redu??es de pre?os sem uma ruptura na oferta. A produ??o brasileira de gr?os passou de 1.258 quilos por hectare na safra 76/77 para 3.274 quilos na safra 2010/11.
Na verdade, o per?odo coberto pela presente an?lise mostrou uma constante expans?o da oferta de alimentos, tanto para o mercado interno quanto para exporta??o. Em termos de gr?os, a colheita cresceu de algo como 50 milh?es de toneladas para mais de 160 milh?es nos dias de hoje, com modesta eleva??o da ?rea cultivada. Como o Brasil tem algo entre 50 milh?es e 90 milh?es de hectares de pastagens degradadas que podem ser reaproveitadas, o Pa?s pode produzir energia renov?vel sem prejudicar a produ??o de alimentos e sem derrubar florestas, caso praticamente ?nico no mundo.
A queda de pre?os continuou forte at? meados de 2006, quando houve uma revers?o, de sorte que, entre setembro de 2006 e maio deste ano, a cesta de alimentos subiu 13,6% em termos reais, a despeito da valoriza??o do real.
Como a produ??o e a produtividade continuaram a crescer nos anos recentes, ? claro que algo mais deve explicar a eleva??o das cota??es. A forte eleva??o da demanda de alimentos pelos pa?ses emergentes bem-sucedidos, liderados pela China, alterou o equil?brio nos mercados internacionais, implicando em eleva??es de pre?os, mesmo com a oferta global crescendo, especialmente a partir de 2000.
De fato, a produ??o mundial de milho, soja, trigo e arroz, que foi de 1,76 bilh?o de toneladas na safra de 2000/01, cresceu para 2,18 bilh?es de toneladas na safra de 2010/11, uma expans?o de 24%. Refor?a o argumento lembrar que os estoques globais de alimentos se reduziram nos ?ltimos anos. No mesmo per?odo e para os mesmos produtos, os estoques ca?ram de 563 milh?es de toneladas para 473 milh?es. A maior instabilidade clim?tica e volatilidade nos mercados futuros tamb?m tem um papel neste processo. Por?m, estamos convencidos que o fundamento b?sico da alta dos pre?os ? a for?a da demanda, que tem tudo para continuar. Como escreveu recentemente o ex-ministro indiano J Singh, "os trabalhadores da ?ndia e da China agora querem um padr?o de vida melhor, exig?ncia que nem o sistema pol?tico de controle rigoroso da China pode ignorar". De fato, ? muito prov?vel que a expans?o asi?tica continue forte nos pr?ximos anos, a despeito de riscos maiores na China mais adiante, como tive oportunidade de discutir aqui no Estado recentemente.
Dessas observa??es podemos tirar pelo menos tr?s conclus?es.
Em primeiro lugar temos aqui mais um exemplo de que o mundo n?o come?ou em janeiro de 2003, como querem alguns.
Em segundo lugar, o pre?o dos alimentos dever? continuar a pressionar a infla??o, e a pol?tica econ?mica deveria levar isso em considera??o.
Finalmente, uma boa pol?tica agr?cola nunca foi t?o importante. A continuidade da inclus?o social tamb?m depende muito disto.
P.S.: A turbul?ncia destes dois dias n?o altera minha vis?o do mercado de alimentos acima apresentado, embora a volatilidade v? se manter alta.

Fonte: Folha de S?o Paulo

Compartilhe nas Mídias Sociais

Fale Conosco
(27) 3185-9226
Av. Nossa Senhora da Penha, 1495, Torre A, 11° andar.
Santa Lúcia, Vitória-ES
CEP: 29056-243
CNPJ: 04.297.257/0001-08