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Entendi e Fechar
A pol?tica vai mudar
1 de setembro de 2020

QUEM OBSERVA a nossa vida pol?tica apenas em sua superf?cie pode pensar que estamos sempre repetindo os mesmos dramas. De fato, a classe pol?tica parece n?o mudar nunca, e o nosso sistema pol?tico funciona sem sentido de prop?sito ou finalidade. Nossa vida p?blica est? muito apartada da sociedade.

Por isso, as ?ltimas elei??es transcorreram em clima de indiferen?a e at? mesmo de apatia, deixando a sensa??o de que nenhuma ideia havia sido vencedora ou derrotada. No entanto, abaixo dessa superf?cie est?o ocorrendo movimentos importantes, que dar?o novas fei??es ? pol?tica de amanh?.

A principal mudan?a, capaz de mexer com toda a estrutura e o funcionamento da sociedade, ? o grande e r?pido crescimento das popula??es que ganham entre dois e dez sal?rios m?nimos, que chamamos de nova classe m?dia.

? um movimento recente, iniciado a partir de 1993, com o fim da grande infla??o, e que tem continuado por quase duas d?cadas, devido aos crescimentos da economia e do emprego. ? um movimento de escala in?dita em nossa hist?ria. Em 1993, esse grupo representava 32% da popula??o; pouco tempo depois, em 2009, j? era algo em torno de 53% -cerca de 100 milh?es de pessoas.

O segmento numericamente dominante da popula??o brasileira ultrapassou o limiar da condi??o econ?mica em que a preocupa??o quase que exclusiva ? com as tarefas de sobreviv?ncia f?sica.

Ao livrarem-se desse est?gio primitivo de exist?ncia, essas popula??es n?o apenas t?m acesso a novos bens de consumo, mas, principalmente, tornam-se aptas a novas formas de conv?vio humano e de participa??o social, o que lhes abre as portas para uma mais elevada vida c?vica. Essa nova vida vem carregada de expectativas em rela??o ao futuro, pois, afinal, ao perceberem que come?aram a se mover na estrutura social, as pessoas querem seguir em frente.

Esse fen?meno provocar? grandes transforma??es no reino pol?tico, porque esses grupos s?o naturalmente portadores de uma nova agenda e de uma nova atitude, para n?o dizer de uma nova esperan?a em rela??o ao sistema pol?tico e ao Estado. Eles n?o compartilham o mal-estar com a civiliza??o e a crise de valores das classes de renda alta.

S?o grupos que se veem a si mesmos como vivendo uma situa??o de progresso e, por isso, encaram o futuro de forma otimista. Sabem tamb?m que contam consigo e com o seu trabalho, e n?o com o Estado e suas ajudas, para continuar a progredir.
Nosso sistema pol?tico n?o est? acostumado nem preparado para lidar com esses grupos sociais. At? agora, a agenda do Estado e dos pol?ticos mirava as classes de alta renda e cultura e a imensa maioria dos brasileiros de baixa renda, cultivando aqueles e dominando estes com ferramentas longamente desenvolvidas durante toda a nossa hist?ria de extrema polariza??o econ?mica e social. Os grupos m?dios, que agora chegam subitamente e em grande n?mero, n?o t?m como se satisfazer com os modos tradicionais de a??o do Estado brasileiro. Seu progresso inicial ainda ? pequeno e eles ambicionam naturalmente muito mais.

O Estado brasileiro tem sabido tratar com os muito pobres, com os programas de transfer?ncia de renda e as pr?ticas clientelistas. Tamb?m sempre soube atender as classes de renda alta ao permitir, por exemplo, que o sistema tribut?rio taxe relativamente menos as pessoas de renda alta, em compara??o com outros pa?ses. Mas n?o tem o que dizer aos "novos brasileiros".

H? pontos comuns entre a ascens?o desses novos grupos e a das novas classes de agricultores brasileiros que criaram o agroneg?cio: vis?o positiva do futuro, disposi??o para correr riscos e cren?a no trabalho e no esfor?o individual para a conquista da prosperidade.

O que eles querem do Estado e dos pol?ticos? Que se garanta a todos oportunidade de acesso ao conhecimento e ? propriedade individual, que essa propriedade seja respeitada e que se estimule e se valorize o trabalho produtivo. Que se cuide do estado geral de sa?de da economia. E que suas liberdades individuais sejam intoc?veis. A chegada desses novos cidad?os vai fazer do Brasil uma democracia real e da pol?tica uma coisa muito diversa do que ela ? hoje.

Fonte: Folha de S?o Paulo

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