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Pot?ncia no agroneg?cio, Brasil importa 75% dos fertilizantes que usa
1 de setembro de 2020

?Em tal maneira ? graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-? nela tudo?, escreveu Pero Vaz de Caminha, descrevendo a fertilidade da terra que se tornaria o Brasil. Caminha, infelizmente, pouco sabia de agricultura, e o ditado ?em se plantando, tudo d??, que hoje ecoa a impress?o do visitante portugu?s, n?o passa de propaganda enganosa. Um olhar mais atento revela que a terra tupiniquim sofre com a falta de componentes essenciais para o desenvolvimento vegetal, e que seria necess?rio um jeitinho brasileiro para transformar este vasto territ?rio em pot?ncia agr?cola.

Hoje, o pa?s registra uma safra anual de 209,5 milh?es de toneladas, com crescimento de produ??o superando os 8% ao ano. Por tr?s desses n?meros impressionantes, est? um importante ingrediente, capaz de compensar a esterilidade da terra nacional: 28 milh?es de toneladas de fertilizantes, quantidade usada em 2015, para nutrir leguminosas, frutas e gr?os. O problema ? que cerca de 75% desses insumos t?m origem estrangeira. Conforme cresce a safra, sobem tamb?m os n?meros que prendem um dos pilares da economia brasileira ? importa??o.

A agricultura nacional posiciona o pa?s na quarta posi??o entre os consumidores de fertilizantes, atr?s apenas de China, ?ndia e Estados Unidos. Enquanto o consumo desses produtos aumenta, em m?dia, 2% ao ano no mundo, o crescimento no Brasil ? de 4%. De maneira inversa, a fabrica??o nacional tem ca?do nos ?ltimos anos, abrindo espa?o para a entrada de mais produtos importados. Essa depend?ncia de nutrientes estrangeiros influencia diretamente no custo da lavoura e obriga os fazendeiros a inclu?r a cota??o do d?lar na conta da produ??o da safra.

Sem uma pol?tica nacional para o setor, os produtores brasileiros t?m poucas chances de conquistar a independ?ncia dos fertilizantes importados. ?O pre?o ficou alto, e o governo zerou a al?quota da importa??o, o que a estimulou. Isso foi feito para proteger o agricultor, mas causou um problema: a retra??o ainda maior dos investimentos na produ??o nacional?, ressalta Jos? Carlos Polidoro, chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Solos.

Para Polidoro, o problema dos fertilizantes ? uma quest?o de seguran?a nacional. ?Importamos mais de 90% do pot?ssio que consumimos, e esse nutriente ? muito exigido pela planta. Se algo acontecer na R?ssia, por exemplo, o Brasil sofre um problema de abastecimento s?rio?, estima o especialista da Embrapa. ?Este ? um pa?s que depende da agricultura, e n?o produzir fertilizante ? um erro estrat?gico grande.?

Al?m dos alt?ssimos investimentos necess?rios para o processo de minera??o, fabrica??o e log?stica dos insumos de origem mineral, a produ??o nacional tamb?m esbarra na quest?o ambiental, pois a minera??o pode comprometer ?reas de grande import?ncia. O consumo de pot?ssio do pa?s, por exemplo, poderia ser totalmente suprido se fosse explorada uma reserva do min?rio rec?m-descoberta no Brasil. O problema ? a localiza??o desse tesouro mineral: no cora??o da Amaz?nia, ?s margens do Rio Madeira. Embora n?o seja considerada invi?vel, a explora??o da regi?o exige extensos estudos de impacto ambiental.

Inova??o Segundo dados da Organiza??o das Na??es Unidas (ONU), a popula??o mundial deve ganhar 75 milh?es de habitantes a cada ano, aumentando ainda mais a demanda por alimentos e colocando mais press?o sobre a produ??o agr?cola. O Brasil tem importante papel na seguran?a alimentar mundial e deve alcan?ar a lideran?a das exporta??es do setor na pr?xima d?cada. As terras cultiv?veis, por outro lado, s?o limitadas. Portanto, torna-se urgente o aumento de efici?ncia do solo, o que s? pode ser alcan?ado por meio de novas tecnologias de nutri??o vegetal.

Para suprir essa necessidade, os insumos importados s?o usados para a fabrica??o de produtos enriquecidos com um toque brasileiro. Estima-se que quase 700 empresas de pequeno a grande porte sejam respons?veis pela maior fatia do mercado nacional de nutri??o vegetal, dedicada a transformar macro e micronutrientes em novos fertilizantes foliares, org?nicos, organominerais e outros produtos aprimorados com tecnologia agregada. Al?m de serem adaptadas ? condi??o brasileira, essas f?rmulas tamb?m s?o menos dependentes do mercado internacional. ?Se o cloreto de pot?ssio importado ? transformado numa outra fonte de pot?ssio, ele tem uma dilui??o do efeito da importa??o. Por isso, o segmento sofre um pouco menos?, explica Anderson Ribeiro, representante da Associa??o Brasileira das Ind?strias de Tecnologia em Nutri??o Vegetal (Abisolo).

A expectativa ? que o setor de fertilizantes especiais cres?a 17% neste ano gra?as ? inova??o: estima-se que os produtores com tecnologia agregada invistam cerca de 6% do faturamento em pesquisas. ?O segmento de fertilizantes especiais se destaca por gerar muita informa??o na pesquisa. A gente agiliza os processos para levar a informa??o rapidamente ao agricultor?, ressalta Ribeiro. A estrat?gia rende produtos com melhor aproveitamento dos nutrientes pelas plantas, com desempenho at? 10% maior.

Outra rota para a renova??o do setor ? a busca por novas fontes de minerais e materiais org?nicos. Na regi?o de S?o Gotardo (Alto Parana?ba), uma pesquisa da empresa Verde Fertilizantes, em parceria com a Universidade de Cambridge, promete transformar a glauconita, min?rio que pertence ? rocha popularmente chamada de verdete, em uma variedade de nutrientes para vegetais. O min?rio ? usado para a fabrica??o de fertilizantes h? mais de dois s?culos, mas no Brasil era subestimado. Al?m de um composto que promete melhorar a qualidade do solo aprovado para produ??o org?nica, a empresa trabalha num protetor vegetal e em um fertilizante multifuncional. ?Estamos falando de pot?ssio, c?lcio, magn?sio, sil?cio e, dependendo da cultura, tamb?m de mangan?s, boro, cobre e zinco. Esse produto pode ser usado em absolutamente todas as culturas?, enumera Cristiano Veloso, CEO da companhia. A empresa aguarda a licen?a ambiental para dar in?cio ? produ??o.

P? de rocha Na Universidade de Bras?lia (UnB), pesquisadores do Centro de Desenvolvimento Sustent?vel (CDS) estudam o uso de uma antiga t?cnica natural para fertilizar solos. Conhecido como rochagem, o m?todo consiste no uso de rochas mo?das para recuperar os agrominerais perdidos pela terra. ?Ao contr?rio dos fertilizantes convencionais, essas rochas cont?m quase toda a tabela peri?dica. Assim, podemos acrescentar micronutrientes que s?o igualmente importantes e que, ao longo do tempo, foram deixados de lado pela agricultura nacional?, afirma Suzi Huff Theodoro, pesquisadora do CDS.

A especialista estuda a rochagem h? quase 20 anos e j? aplicou a t?cnica em culturas de milho, feij?o, cana-de-a??car, mandioca e hortali?as. Os trabalhos revelam que os bons resultados tendem a melhorar com o tempo. A produ??o pode triplicar entre uma colheita e outra, ap?s uma ?nica aplica??o, com dura??o estimada em cinco anos. Isso ocorre porque a remineraliza??o ? um tipo de fertilizante inteligente que fornece nutrientes para as plantas gradativamente. Nada ? desperdi?ado, e os minerais permanecem no solo para servir ? pr?xima safra. Al?m de ser ambientalmente correta, a alternativa pode custar at? 90% menos que os insumos convencionais ? uma grande diferen?a, j? que os custos com fertilizantes chegam a representar 50% da despesa em alguns tipos de cultura.

As pesquisas constataram, ainda, que essa aplica??o tem melhor desempenho em ?reas tropicais. As culturas de ciclo longo (como a cana, um dos principais produtos nacionais) s?o as que mais se beneficiam, e os vegetais bem nutridos se tornam tamb?m mais saud?veis para os consumidores. A remineraliza??o j? foi inclu?da por lei entre os insumos destinados ? agricultura, mas o uso depende de uma nova instru??o normativa do Minist?rio da Agricultura. ?? importante dar ao Brasil essa alternativa?, acredita Suzi Theodoro.

Fonte: Campo Vivo

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